sexta-feira, 4 de abril de 2008

Realidade ou fruto de uma crise emocional provocada pela solidão?


MIRIAN VAI VOLTAR.

Era uma tarde de julho, fazia frio, o céu azul com algumas nuvens que passavam lentamente empurradas por um vento fraco.

Subia eu por um caminho entre as palmeiras que plantei nas terras de meu pai, como sempre faço quando quero ficar sozinho.

Quando cheguei no final do caminho de onde posso ver toda a plantação, parei para contemplar a paisagem e ouvir os pássaros que ali procuram alimento e refúgio, mas algo estranho estava acontecendo, não havia pássaros.

Um silêncio assustador, o vento soprava, mas não tocava em mim. As folhas das palmeiras levadas pelo vento cada vez mais forte batiam umas contra as outras como em uma dança frenética, as nuvens passavam cada vez mais rápido em uma velocidade impressionante e mesmo no meio daquela demonstração de força impiedosa dos ventos, eu nada sentia e o vento não tocava em mim.

Eu estava imóvel sem poder sentir ou ouvir aquela apresentação sinistra da natureza, como se eu não fizesse parte daquele cenário.

De repente uma voz de mulher chamou meu nome, tentei me virar para ver, mas foi impossível. Todo o meu corpo estava imóvel e eu não conseguia me virar para ver quem me chamava.

Por mais duas vezes ouvi o chamado e então como que levado por várias mãos fui colocado diante de quem pelo meu nome chamava.

- Linda! Eu estava diante de uma linda mulher.

Seus cabelos ruivos e longos chegavam abaixo da cintura, eram levemente ondulados e caiam por sobre os ombros, seu rosto rosado com traços delicados transmitia uma doçura de mulher. Seus lábios vermelhos revelavam sensualidade em contraste com o rosto angelical de criança-mulher, de malícia e inocência, uma mistura difícil de ser definida.

Olhos lilás, lindos olhos lilás! Havia algo de estranho naqueles olhos lilás.

Seu corpo estava todo coberto por uma fina vesti de cor verde, bem fina e clara, quase podia ver seu corpo nu; Confesso que fiz um grande esforço para ver através das vestis verde que cobriam aquele corpo de mulher que imóvel e em silêncio permanecia me observando.

Correndo com os olhos, mas desejando fazer o mesmo com as mãos, percebi que seus pés não tocavam o chão.

Pensamentos passavam em minha mente enquanto observava cada detalhe da mulher que estava a pouca distância de mim, tão perto que podia sentir o seu perfume provocador.

Procurei controlar meus pensamentos, para não cometer o erro de desejar aquela mulher mais do que já estava desejando.

-Eu sou Mirian! (quebrando o silêncio disse a mulher). Apesar do leve movimento de seus lábios pude ouvir com clareza, o som de sua voz era delicado e bem audível.

- Eu sou Mirian e vim para por minha mão sobre aquele que chama por mim. A graça me foi dada para que não volte a se perder aquele que chama por mim, quando a fenda se abrir, eu Mirian vou levar aquele que me foi dado para que nunca mais se perca.

Artur, eu sou Mirian! (continuou a mulher a falar.) Quando a fenda se abrir eu voltarei para levar aquele que me foi dado, aquele que chama por mim e agora me vê. Artur eu sou Mirian e não vou perder aquele que me foi dado, a minha mão estará sobre a sua cabeça.

O silêncio se fez novamente presente. Tentei falar; Por Deus como tentei! Mas não conseguia, desejei com todas as minhas forças tocar minhas mãos em seu corpo, em seu rosto e em seus cabelos, mas não consegui me mover, meu coração batia com tanta força em meu peito que fazia todo o meu corpo vibrar.

Em um movimento que não pude perceber, Mirian aproximou-se e ficou tão perto que podia sentir o calor do seu corpo no meu, sua boca ficou na altura de meus olhos e seus seios encostados em mim me faziam ir do prazer da carne ao êxtase da alma, seus lábios tocavam minha fronte.

Seus lábios macios entre os meus olhos, era como se todo o meu corpo estivesse sendo beijado por aqueles lábios de mulher, seu perfume me envolvia em uma atmosfera de mistério e prazer, eu já não sentia os meus pés no chão.

Com as mãos Mirian tapou meus ouvidos e minhas vistas escureceram a única coisa que percebia e ainda podia sentir era o seu perfume provocador.

Depois de algum tempo comecei a ouvir vozes de pessoas conversando ou talvez rezando, não sei bem ao certo. Em meio aquela confusão de vozes começaram a se destacar duas, uma masculina e a outra feminina, discutia a mulher com o homem:

- Doutor, pelo amor de Deus deixe-me ver a minha filha! Trás a minha menina de volta.

-Senhora, (respondeu o homem) sua filha ainda está em coma e já fizemos tudo o que foi possível, agora só nos resta esperar; Senhora, procure acalmar-se, assim que sua filha for transferida para o quarto poderá ir vê-la.

A conversa parecia estar sendo encoberta por vários sons como em uma espécie de oração e foram sumindo até que restou apenas o silencio.

Por algum tempo permaneci no silêncio e na escuridão me perguntando: até que ponto a mente de uma pessoa pode chegar antes de enlouquecer, antes de perder a noção do que é real?

Em meus pensamentos passei a chamar por Mirian e a resposta não demorou a vir em uma voz de criança:

- Moço!

No mesmo instante minha visão começou a voltar e assim pude perceber que eu estava bem no meio de uma tempestade elétrica, a quantidade de relâmpagos que rasgavam o céu escuro era algo inacreditável e o barulho produzido por eles, (trovões) ensurdecedores, um espetáculo aterrorizante.

A luz emitida pelos relâmpagos que surgiam em uma seqüência muito rápida, me permitia ver com uma certa clareza tudo em minha volta. O lugar em que eu estava parecia sem vida como em um deserto, eu estava bem no meio do nada.

Novamente a minha atenção foi para a voz de criança que continuava a me chamar:

- Moço você veio me buscar?

Olhei para baixo e vi bem junto a mim na altura de minha cintura uma menina, cabelos castanhos bem curtos, pele morena clara e usava um vestidinho branco que refletindo o brilho dos relâmpagos dava-me a impressão de estar diante de uma bonequinha de porcelana.

Atendendo ao chamado da pequena bonequinha, me abaixei para ficarmos da mesma altura e antes que eu pudesse perguntar alguma coisa a menina disparou a falar:

-Moço, você vai me levar para a minha mãe? Você é amigo da minha mãe? A minha mãe não gosta que eu fale com estranhos; Você é estranho?

Colocando uma das mãos sobre a boca daquela linda e tagarela menina que parecia não se assustar com o lugar onde estávamos, perguntei:

- Menina qual é o seu nome e como você veio parar nesse lugar?

- Iara! (respondeu). Meu nome é Iara e já tenho quatro anos.

- Como você veio parar aqui? (tornei a perguntar).

Não sei; Eu estava brincando com minha boneca na escada e caí, minha mãe começou a gritar, então eu vi você.

Tudo me parecia estranho como em um sonho, ou melhor, dizendo em um pesadelo. A menina Iara não demonstrava medo frente aquele cenário de pesadelo.

O som dos trovões cada vez mais nos obrigava a falar alto, mesmo assim Iara não parecia assustar-se com tudo aquilo; (e a menina continuava a falar).

- Moço, você vai me levar para a minha mãe?

- Iara eu não sei como fazer isso, eu nem mesmo sei como vim parar aqui.

- Então porque não pergunta para ela? (disse a pequena Iara apontando para o alto a minha esquerda).

Virando para minha esquerda pouco acima da minha cabeça a uns dois metros de distância, vi uma esfera de intensa luz verde pouco maior que uma bola de basquete; Seria Mirian? (pensei). Fiquei em pé para me aproximar e logo percebi que seria impossível, quanto mais eu tentava uma aproximação mais à esfera se afastava, sempre mantendo uma distancia de uns dois metros.

A pequena Iara segurando a minha mão insistia para que eu perguntasse a esfera verde, como sair daquele lugar; Foi o que fiz:

-Mirian é você?

- Cala-te e ouvi! Maior é aquele que em você está, do que aquele que está no mundo.

A voz era sem duvida de Mirian, mas diante de meus olhos só havia uma esfera de luz verde, trazendo a menina para bem perto de mim e colocando uma das mãos sobre a sua cabeça, novamente me dirigi à esfera e perguntei:

- Mirian, porque estamos aqui e como vamos sair deste lugar?

- Eu sou Mirian! Artur segure a criança pela mão e comesse a andar; Agora!

- Em que direção?

- Aqui como em qualquer outro lugar, você escolhe a direção.

Logo que Mirian parou de falar a esfera desapareceu, com a cabeça confusa e um tanto quanto apavorado, apertei a mãozinha da pequena Iara e começamos a andar, no meio daquela tempestade de relâmpagos e trovões.

Um vento forte passou a soprar dificultando ainda mais a nossa caminhada e Iara começou a reclamar:

- Tio eu quero a minha mãe! (dizia aos berros) meus pés estão doendo.

Levantando a menina em meus braços, procurei acalmá-la e quando já estava novamente andando algo terrível aconteceu, sombras ou uma espécie de vultos começaram a surgir de todas as direções; Iara me abraçou com mais força e aos berros pedia pela mãe.

Comecei a correr em varias direções tentando me livrar dos vultos que cada vez mais e em maior número nos cercavam, demonstrando querer à menina que eu segurava em meus braços.

Com sussurros e gemidos os vultos pediam para que eu deixasse a pequena Iara com eles, chegavam a implorar. Depois de muito correr e já sem forças para continuar fugindo, cai no chão com o meu corpo sobre a pequena Iara, para protegê-la dos ataques daqueles seres sombrios que se aglomeravam sobre nós.

A menina aos gritos pedia para que eu a levasse até sua mãe, a violência dos trovões fazia o solo vibrar, os vultos atiravam-se sobre nós tentando arrancar de mim a criança que eu protegia com o meu corpo.

No meio daquele terror eu só conseguia pensar no que Mirian me dissera (maior é aquele que em você está, do que aquele que está no mundo).

Desesperado e vendo que os vultos logo conseguiriam arrancar de mim a pequena Iara, comecei a repetir a frase de Mirian cada vez mais alto.

Na medida em que eu ia repetindo a frase os vultos iam se afastando, até que consegui ficar novamente em pé com Iara em meus braços.

Voltei a andar em passos largos olhando fixamente para frente, repetindo a frase que Mirian me dissera e procurando ignorar os ataques dos vultos que insistiam em tomar a criança de meus braços.

Aos poucos aqueles seres sombrios foram desaparecendo até que restou apenas, eu e a pequena Iara.

- Minha pequena Iara... vamos para casa. (dizia eu enquanto caminhava cercado por relâmpagos, trovões e vento forte no meio de um deserto escuro).

Quando a criança vencida pelo cansaço adormeceu, uma gigantesca esfera de intensa luz verde surgiu diante de meus olhos a poucos metros de onde estávamos, fazendo cessar os relâmpagos e os trovões, somente o vento forte continuava a soprar na direção da esfera.

Não havia mais nada a fazer e como Mirian afirmara, eu decido a direção e foi o que fiz, comecei a andar segurando firme a criança em meus braços e entrei na esfera de luz verde, na certeza de que lá encontraria Mirian.

A luz era forte, eu mal conseguia manter os meus olhos abertos, uma forte energia parecia envolver todo meu corpo; sem que eu pudesse evitar os meus braços foram abertos e a pequena Iara por algo invisível aos meus olhos foi levada, tentei impedir, mas não podia me mover e a menina desapareceu na intensa luz.

Desesperado por ter perdido a pequena Iara comecei a chamar por Mirian, na esperança de receber dela alguma ajuda para recuperar a criança.

A luz aos poucos foi diminuindo de intensidade até que voltei a ver com clareza; Estava eu agora em um quarto e na minha frente bem próximo de mim uma cama, ao lado da cama um rapaz que usava um avental branco e segurava uma prancheta com alguns papeis, definitivamente eu estava em um quarto de hospital e para a minha surpresa, quem estava deitada na cama era a pequena Iara que parecia estar dormindo.

O rapaz que examinava os papéis ao lado da cama em que dormia a pequena Iara apertou um botão na parede e logo uma porta se abriu atrás de mim, entrando por ela uma senhora muito bonita usando também um desses aventais que os médicos costumam usar.

Aquele casal parecia não perceber a minha presença, mas isso não me incomodava, a única coisa que eu queria era pegar a criança de volta e levá-la para sua mãe, eu contava com a ajuda de Mirian para isso.

Aproximando-me da cama coloquei uma das mãos sobre a cabeça da criança e chamei:

- Minha pequena Iara, acorda!

De repente um grito me fez pular para trás; Teria só agora aquela mulher maluca notado a minha presença? “pensei”. Mas logo percebi que não foi isso que a fez grita

A mulher se dirigiu ao rapaz e gritou novamente:

- Corre! Vai chamar o médico de plantão, a nossa menina está acordando.

- Santo Deus! “Exclamou o rapaz, enquanto deixava o quarto às pressas”.

Todo o meu corpo estava tomado por uma sensação estranha, eu não podia acreditar que Iara era a criança que a mãe insistia para ver, na conversa que pude ouvir na mais completa escuridão, antes de ser levado para aquele lugar horrível.

Lentamente a luz foi aumentando de intensidade e a ultima coisa que pude ver foi à pequena Iara abrindo os olhos, depois tudo ficou branco e uma voz em meus ouvidos dizia:

- Volta Artur, volta, volta...

Novamente a luz foi diminuindo e minha visão voltou por completo, eu havia voltado para o lugar de onde tudo começou. Estava eu em pé imóvel e Mirian na minha frente se afastava lentamente, subindo cada vez mais distante.

- Mirian! Gritei seu nome, não podia deixar que partisse, levantei meus olhos cheios de lagrimas e continuei a chamar por Mirian, na esperança de que aquela mulher voltasse para ficar comigo, ou quem sabe por uma ordem Divina me levar com ela, tudo em vão; Mirian continuava a se afastar e com um leve sorriso falou pela ultima vez, como que para atender o pedido de um simples homem, que suplicava por um pouco do seu néctar Divino de mulher:

- Artur, foi lançada a semente ruim em solo sagrado; Eu sou Mirian, eu vou voltar para aquele que me foi dado, para aquele que chama por mim. Eu sou Mirian e vou voltar.

Aquela mulher que do nada veio para o nada voltou, Mirian foi sumindo entre as nuvens que passavam lentamente empurradas por um vento fraco, Mirian não podia mais ser vista, desapareceu e eu fiquei como antes; Sozinho.

O frio voltava a se fazer sentir, o vento soprava no meu rosto e nada restava do calor nem do perfume de Mirian, a escuridão da noite começava a esconder toda a paisagem, não dava mais para ficar ali chamando por Mirian na esperança de vê-la voltar por entre as nuvens, com suas vestis verde, com seus cabelos ruivos e seus olhos lilás, estranhos olhos lilás, com seu corpo de mulher que quase podia ser visto nu, apesar do vestido que o cobria e seu rosto angelical; Mirian havia partido e nem o seu perfume comigo deixou.

Cada palavra, cada traço do seu rosto, cada detalhe de seu corpo, seu perfume, seu calor, tudo absolutamente tudo ficou registrado em mim. É certo que Miriam deixou algo e isso me faz acreditar que vai voltar para buscar aquele que a ela pertence.

Mais uma noite vou adormecer chamando baixinho o seu nome; E assim será até que ela volte para buscar aquele que chama por ela.

- Mirian vai voltar!

AAGSPA

EM BUSCA DE RESPOSTAS.

MIRIAN VAI VOLTAR?

Sou um homem de 40 anos e depois de oito anos sozinho, não é qualquer coisa que me surpreende.

Nunca duvidei da capacidade de superação do homem, diante de situações que põem em duvida a realidade percebida, mas também nunca me imaginei mergulhado nesse universo paralelo onde à realidade física se funde a (alguma coisa) que não sei definir.

Agora busco respostas:

- Como posso continuar vendo o mundo real, se o “EU” que está fazendo com que seja real é intangível? (Ramtha).

- Quem é Mirian?

- Para onde Mirian me levou?

- Quem é a pequena Iara?

- O que aconteceu comigo?

- O que devo fazer agora?

- Porque isso me incomoda tanto?

- Mirian vai voltar?

Mirian é uma possibilidade que se manifestou como realidade física para mim, o porque eu não sei.

Eu me adianto em afirmar, que Mirian é tão real quanto eu e você e faço esta afirmação por ter vivenciado a experiência manifestação que relatei.

Mesmo confuso busco respostas, talvez você que está lendo estas linhas tenha as respostas que busco e se as tem, por favor, passe-as para mim.

Acredite! Ao fazer isso estará ajudando um homem a beira de uma crise emocional.

AAGSPA.